domingo, 6 de setembro de 2009
Alergia a Penicilina
A penicilina G é um antibiótico natural derivado de um fungo, o bolor do pão Penicillium chrysogenum (ou P. notatum). Ela foi descoberta em 15 de setembro de 1928, pelo médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming e está disponível como fármaco desde 1941, sendo o primeiro antibiótico a ser utilizado com sucesso. O nome penicilina é usado também para outros antibióticos relacionados.
As penicilinas contêm um anel activo, o anel beta-lactâmico, que partilham com as cefalosporinas. As penicilinas contém um núcleo comum a todas elas e uma região que varia conforme o subtipo. Todas penicilinas têm a mesma estrutura básica: ácido 6 aminopenicilanico, um anel tiazolidina unido a um anel beta lactamico que leva um grupo amino livre.
Mecanismo de ação :
Todos os antibióticos beta-lactam (penicilinas e cefalosporinas) interferem na parede celular bacteriana. A penicilina acopla num receptor dessa parede e interfere com a transpeptidação que ancora o peptidoglicano estrutural de forma rígida em volta da bactéria. Como o interior desta é hiperosmótico, sem uma parede rígida há afluxo de água do exterior e a bactéria lisa (explode).
O principal mecanismo de resistência de bactérias à penicilina baseia-se na produção por elas de enzimas, as penicilinases, que degradam a penicilina antes de poder ter efeito.
Outro mecanismo de ação da Penicilina é a inativação de enzimas autolíticas na parede celular, isto da como resultado a lise celular.
Usos Terapêuticos :
É a primeira escolha para infecções bactérianas causadas por organismos Gram-positivos e outros que não sejam suspeitos de resistência.
É geralmente eficaz contra espécies Gram+ ou de Streptococcus, Clostridium, Neisseria, e anaérobios excluindo Bacteroides. Usa-se em casos de meningite bacteriana, bacterémia, endocardite, infecções do tracto respiratório (pneumonia), faringite, escarlatina, sífilis, gonorreia, otite média e infecções da pele causadas pelos organismos referidos. A Penicilina já não é a primeira escolha em infecções por Staphylococcus devido a resistência disseminada nesse género.
Efeitos Indesejados :
A penicilina não tem efeitos secundários significativos, mas pode raramente causar reações alérgicas e até choque anafilático nos indivíduos susceptíveis. Sintomas iniciais nesses casos podem incluir eritemas cutâneos disseminados, febre e edema da laringe, com risco de asfixia. A sua introdução por injeção no organismo também é conhecida por ser dolorosa.
Além disso uso prolongado ou em altas doses pode causar deplecção da flora normal no intestino e suprainfecção com espécie patogénica.
Como identificar Como a alergia à penicilina
Nem sempre é fácil identificar a alergia à penicilina baseado no relato do paciente, que pode se confundir em situações variadas. Por exemplo, estar em uso de penicilina, apresentar uma erupção na pele por outra causa e relacionar como alergia. Ou ainda, a pessoa estar em uso simultâneo de vários medicamentos, surgindo a erupção e relacionar a penicilina como causa, já que os antibióticos são usualmente considerados pelo leigo como medicamentos “mais fortes”. Injeções de penicilina, por sua vez, podem ser bastante dolorosas e provocar sintomas como sudorese, desmaio, sendo considerada pelo paciente como “alergia” à penicilina.
Citam-se ainda situações clínicas onde a reação ao medicamento pode se relacionar com outras doenças do paciente: um exemplo é a erupção cutânea que pode surgir quando uma penicilina semi-sintética (ex: ampicilina, amoxicilina) é empregada em pessoas com mononucleose infecciosa.
Por tudo isso, se uma pessoa já teve algum tipo de reação com uso de penicilina,deve procurar o médico alergista e relatar todos os dados, a fim de que se estabeleça um diagnóstico correto.
Sintomas mais comuns de Alergia à Penicilina
A alergia à penicilina se manifesta de forma imprevisível e variada, desde sintomas discretos até quadros potencialmente fatais, sendo descritos:
- Erupção na pele – também chamada de “rash” cutâneo, caracterizado pelo aparecimento de “pintinhas” ou lesões rendilhadas e avermelhadas na pele.;
- Coceira –em geral intensa;
- Placas de urticária;
- Inchação de lábios, pálpebras e face;
- Casos graves poderão evoluir com envolvimento de múltiplos órgãos e sistemas do organismo, manifestando-se com sintomas graves e variados: asma (broncoespasmo), rinite, sintomas gastro-intestinais, alterações cardiovasculares,etc.
Manifestações Clínicas:
As manifestações clínicas da alergia à penicilina podem ser classificadas de acordo com o tempo decorrido entre o uso do medicamento e o aparecimento dos sintomas, sendo denominadas como: Imediatas, Aceleradas ou Tardias.
-Reações Imediatas: são as mais graves, ocorrendo na primeira hora após o uso.
Acompanham-se de: coceira intensa, placas de urticária, rubor, ou ainda de edema na laringe (glote), falta de ar, cólicas abdominais, arritmia cardíaca e, mais raramente, choque anafilático.
-Reações Aceleradas: Ocorrem entre 1 e 72 horas após o uso do medicamento, podendo cursar com urticária, angioedema, coceira intensa ou evoluir para forma mais grave e morte.
-Reações Tardias: São reações freqüentes e benignas, surgindo após 72 horas ou mais, com erupção na pele (rash). Quadros graves ocorrem mais raramente.
Mecanismos imuno-alérgicos das reações à Penicilina:
As reações alérgicas aos medicamentos obedecem a chamada classificação de Gell e Coombs, que divide os mecanismos imuno-alérgicos em Tipos I,II, III e IV. O tipo I corresponde à reação clássica mediada por anticorpos de alergia denominados imunoglobulina E ou simplesmente IgE. O tipo II envolve anticorpos anticelulares do tipo IgG enquanto o tipo III cursa com formação de complexos imunológicos. O tipo IV envolve células e está mais relacionada às reações de contato na pele com cremes ou pomadas contendo a substância.
Este é um conceito difícil para o leigo e não foi colocado aqui para confundir ou com pretensão de esclarecer um tema tão complexo em poucas palavras, mas sim para ressaltar uma característica importante: a penicilina é capaz de causar reações nos quatro tipos de mecanismos. Esta constatação é importante para se entender como é vasto o campo das reações a estes medicamentos.
Diagnóstico da Alergia à Penicilina
Se uma pessoa fez uso do medicamento e os sintomas surgem coincidindo com o início do tratamento, a identificação da alergia é fácil. Entretanto, quando o surgimento é tardio ou se existem outros medicamentos em uso pelo paciente, é necessário uma rigorosa avaliação clínica para se identificar corretamente o processo.
A base para o reconhecimento da alergia à penicilina é a anamnese, isto é, uma história minuciosa da reação e os dados de uso anterior da medicação e das condições de saúde do paciente.
Testes cutâneos
O teste com penicilina realizado em farmácia, aplicando-se uma pequena quantidade do medicamento no antebraço do paciente é incorreto, sendo comum que a pele fique irritada fornecendo falsos resultados positivos. Além disso, se a pessoa for alérgica ao medicamento, poderá provocar reações graves e não apenas no local da aplicação.
As clínicas e ambulatórios de Alergia realizam o teste com soluções diluídas de penicilina, feito pelo médico, sendo um procedimento demorado e que necessita acompanhamento especializado, conseguindo detectar 90 a 95 % dos pacientes sob risco de reação anafilática.
É importante ressaltar que estes testes não são indicados para prever se uma pessoa poderá ou não apresentar alergia em um futuro uso da penicilina, não sendo isentos de riscos, devendo ser realizados em local que tenha recursos para atendimento emergencial .
O uso do teste sanguíneo denominado RAST para detectar a presença do anticorpo específico contra a penicilina está indicado como alternativa em alguns pacientes.
Os testes são úteis para as reações que envolvem a participação de IgE, não tendo o mesmo valor em outras situações, como por exemplo: doença do soro, anemia hemolítica, dermatite exfoliativa, síndrome de Stevens-Johnson, dermatite de contato, etc. A dermatite de contato pode ser avaliada mediante realização de testes alérgicos de contato.
Pessoas que são mais predispostas ao aparecimento de sensibilidade à penicilina
Os estudos científicos mostram que alguns fatores são capazes de influenciar no surgimento da alergia à penicilina, como:
- Fatores genéticos.
- Doenças associadas, como por exemplo:HIV, doenças virais, leucemias podem cursar com maior chance de alergia a penicilina.
- As reações mais graves com penicilina acontecem mais com o uso injetável, sendo raras ou discretas quando usados por via oral.
- Pessoas que estejam em uso de beta bloqueadores tendem a ter maior susceptibilidade às reações alérgicas à penicilina.
- As reações ocorrem com maior freqüência na faixa etária de 20 a 49 anos, sendo raras em crianças
- A história de alergia prévia à penicilina deve ser confirmada antes do uso, para evitar risco de nova reação..
OBS: é importante ressaltar que a presença de história de alergia a remédios em outros membros da família não se associa com maior freqüência desta reação. Da mesma forma, as pessoas portadoras de outras doenças alérgicas não têm maior predisposição para desenvolver alergia à penicilina. Entretanto, neste caso, uma vez sensibilizados, tendem a apresentar reações mais graves.
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